A líder feminista mexicana Marta Lamas disse que suas companheiras usaram deliberadamente números falsos para justificar a legalização do aborto no México.
“Naquela época, eu me lembro, nós, mulheres, dizíamos que ‘100 mil mulheres morrem de abortos clandestinos’. Só que 100 mil pessoas morriam em todo o país, homens e mulheres de todas as doenças. Nós inflávamos os números”, disse Marta Lamas, uma das fundadoras do Grupo de Informação em Reprodução Escolhida (GIRE) e professora da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).
“Foi um processo muito complicado, onde aprendemos muitas coisas”, acrescentou, entre os risos dos participantes.
Pouco antes, como pode ser visto no vídeo completo do painel “Conversa sobre o Movimento Feminista”, organizado pela Universidade Autônoma Metropolitana, Lamas disse que com o GIRE pensou em ter um “pequeno instrumento” para buscar um “objetivo radical”: “Quero que o aborto seja despenalizado”
O vídeo data de 25 de outubro de 2016, mas viralizou nos últimos dias depois que a plataforma Passos pela Vida o compartilhou em sua conta no Instagram.
Frida Espinosa, cofundadora da plataforma pró-vida Juventude E Vida A.C. (JUVI) também o compartilhou em sua conta no Twitter.
Por iniciativa de organizações feministas como o GIRE, no mandato do então chefe de governo do Distrito Federal (atual Cidade do México), Marcelo Ebrard, o aborto livre sob demanda foi despenalizado até 12 semanas de gravidez na capital do país.
No governo de Andrés Manuel López Obrador, atual presidente do México, e com o incentivo de seu partido, Morena, outros oito estados aprovaram despenalizações semelhantes às da Cidade do México.
Ebrard é atualmente secretário de Relações Exteriores de López Obrador e um dos possíveis candidatos a sucedê-lo nas eleições presidenciais de 2024.
GIRE faz 30 anos em 2022 e é uma das maiores e mais poderosas plataformas pró-aborto do México.
O grupo começou com grandes investimentos, como lembra Lamas no vídeo, contando que começou o projeto junto com Patricia Mercado, atual senadora pelo partido Movimiento Ciudadano.
Só uma das fundações que financia GIRE, MacArthur Foundation, doou US$ 250 mil em 1994, dois anos após sua criação, para “apoiar um programa de educação pública sobre direitos reprodutivos no México (por três anos)”.
Desde então, o dinheiro destinado apenas pela MacArthur Foundation ao GIRE soma mais de US$ 2,5 milhões.
Outra fundação que financia o GIRE é William+Flora Hewlett Foundation, que desde 2002 já doou cerca de US$ 1,8 milhão de dólares.
Pilar Rebollo, diretora de Passos pela Vida no México, disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que, embora “este vídeo não seja novo”, serve para “descobrir” as verdades da indústria do aborto.
“Nós estivemos adormecidos para descobrir suas mentiras”, lamentou, porque no vídeo se pode ver “tal cinismo de: ‘nós fizemos isso’, e eles riem”.
O método do feminismo “não é mais surpreendente”, disse ela, e lembrou que nos últimos anos a agenda do aborto espalhou informações falsas de que há mulheres em prisões mexicanas condenadas por abortar.
“Seu método de mentir, inflar, exagerar não é novo”, denunciou.
Rebollo disse que “não podemos permitir que continuem legislando nem armando movimentos, nem criando ideologias, com mentiras, com esse cinismo”.
“E estamos vendo esta surpresa numa conversa de feminismo onde entre elas é normal, natural e até provoca riso dizer que ‘mentimos e exageramos’”.
“Que assustador” que o GIRE “se chame ‘Grupo de Informação em Reprodução Escolhida'”, continuou, “e como é assustador esse método de distorcer a verdade, de manipulá-la para obter outros tipos de fins e benefícios”.
“Mas não devemos nos deixar levar e não podemos ficar adormecidos diante disso”, afirmou, porque “estão mentindo para a mulher (dizendo a ela) que ela não pode ser mãe, que não sabe ser mãe e que a maternidade é um diagnóstico.”
“Eles a estão alienando da verdade, da natureza, da vida cotidiana para criar outra realidade alternativa”, denunciou.
Frida Espinosa disse à ACI Prensa que “durante anos, o discurso abortista usa como argumento a morte por aborto clandestino, oferecem centenas de números que não podem ser verificados em nenhum lugar”.
“Mesmo assim, a mídia e os grupos feministas não as questionam”, criticou.
“A verdade por trás desses dados é manipulação e engano. E embora seja algo que já sabíamos, Marta Lamas, uma ativista que passou anos tentando legalizar o assassinato de seres humanos, o admite”.
Espinosa alertou que “essa é a realidade do movimento: sempre buscam mudar a verdade para alcançar seus interesses pessoais, não importa quem eles tenham que enganar ou manipular”.
“Importante divulgar”
Marcial Padilla, diretor da plataforma pró-vida mexicana ConParticipación, disse que “é muito importante divulgar que os próprios grupos abortistas, que promoveram a despenalização do aborto, reconhecem que mentiram sobre o número de mortes por aborto clandestino”.
“Há pessoas que concordam com a despenalização do aborto porque acham que isso salvará a vida de milhares de mulheres, que morreriam se cometessem um aborto clandestino”, disse.
Para Padilla, “é muito triste ver que em algo tão grave como o aborto se acredita na mentira e se usa a saúde da mulher e a vida da mulher, justamente para abortar e deixá-la sozinha diante de uma gravidez”.
“Os grupos pró-vida temos que continuar agindo com clareza, firmeza, para defender e, com amor, a vida da mãe e do filho”, disse.