O Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, estava lotado. Autoridades e a elite econômica do estado se apinhavam para ver a rainha Elizabeth 2ª que acabara de chegar ao Brasil, naquele 1º de novembro de 1968. A passagem de 11 dias pelo país começou justamente na capital pernambucana, onde a comitiva real aterrissou às 16h15.
“Foi um frisson muito grande”, lembra o historiador Leonardo Dantas, naquela época repórter do Jornal do Commercio escalado para a cobertura.
Do aeroporto dos Guararapes, Elizabeth e o marido, o príncipe Philip, fizeram um trajeto de cerca de 11 quilômetros em carro aberto, passando pela avenida Boa Viagem, à beira-mar, até o local onde foram recebidos pelo governador Nilo Coelho. Era final de tarde e a rainha usava um vestido estampado nas cores verde e amarela, como destacavam os jornais”.
“Todo mundo curioso para conhecer a rainha”, reforça Dantas.
A pompa só foi abalada pelo inusitado: curiosamente faltou energia em grande parte do Recife, exatamente quando a rainha estava desfilando no salão principal do Palácio, cumprimentando as pessoas. “Todas as velas que estavam decorando o ambiente foram usadas para iluminar. A rainha foi recebida à luz de velas”, ri o historiador. “A rainha não se abalou, continuou com sorriso nos lábios.”
Clímax
Foram semanas de expectativa e dias de agitação para preparar a cerimônia de Elizabeth 2ª no Recife, incluindo ensaios de protocolo e segurança. Cerca de 30 mil bandeirinhas do Brasil e da Inglaterra foram distribuídas para que as pessoas acenassem para a comitiva ao longo do trajeto de 11 quilômetros até o palácio, na região central.
O gabinete do governador, onde a comitiva foi recebida, ganhou uma decoração especial com artesanatos pernambucanos. Entre os presentes para a rainha estavam uma obra do pintor Lula Cardoso Ayres e outra do ceramista Francisco Brennand. Nomes como o sociólogo Gilberto Freyre e do religioso Dom Hélder Câmara estavam na lista de convidados para a cerimônia.
Na sexta-feira, dia da chegada da rainha, o jornal Diario de Pernambuco chamava de “monumental” a recepção à família real, porque era “intensa a curiosidade pública em vê-los e aplaudi-los”.
“A expectativa e emoção com que os recifenses acompanharam os preparativos das homenagens à rainha Elizabeth 2ª atingem, hoje, o clímax com a chegada, à tarde, da soberana inglesa e seu esposo”, destacava o jornal, que dedicou uma longa cobertura ao evento.
Ex-fotógrafo do Diario de Pernambuco, Edvaldo Rodrigues diz que aquele foi um dos episódios mais importantes de sua carreira. “Eu era muito jovem, acostumado a fazer reportagens no setor policial e esportivo, e aquele era um momento difícil. Era uma cobrança gigantesca do jornal, eu ia fotografar a rainha da Inglaterra”, recorda-se. “Vez ou outra, quando lembro, me emociono.”
Pitanga
A passagem de Elizabeth 2ª pelo Recife foi rápida. Ela ficou cerca de duas horas na cidade, mas tempo suficiente para provar e gostar do suco servido num banquete no Campo das Princesas, como lembram os convidados do evento.
“A rainha não se serviu de qualquer fruta, alegando já ter merendado a bordo de seu avião, mas tomou refrescos de pitanga. Seu esposo imitou-a e aceitou depois uma dose de uísque, como complemento”, anotava o colunista social João Alberto Sobral também no Diario de Pernambuco.
Como gostou do sabor azedinho da pitanga, a monarca ainda ganhou duas caixas da fruta — levadas ao iate Britannia que a aguardava no porto do Recife e no qual ela seguiu para Salvador.
Créditos: UOL.