As redes sociais têm sido a base da maioria das interações humanas e, em muitos casos, já ultrapassam o uso do tradicional e-mail e até do telefone. Porém, como é possível confirmar se o perfil com quem estou interagindo é realmente da pessoa que eu espero? O que garante que o perfil não é de algum robô e este está programado para fazer comentários ou até interagir automaticamente nas postagens e com outras pessoas? Como identificar um perfil fake? Um dos trabalhos que nós, profissionais de Segurança da Informação, podemos fazer é atuar como detetive computacional, utilizando técnicas da segurança forense para investigar a autenticidade dos perfis. Nesta coluna, confira 17 dicas para identificar perfis falsos (Fake Profile) nas redes sociais:
1° Investigue a foto do perfil
Perfis falsos normalmente não possuem outras redes sociais com variações de fotos. Através do Google Imagens é possível fazer essa verificação se a foto do perfil aparece em outras redes – do próprio usuário ou de outras pessoas, como de amigos, por exemplo. Mais do que isso, é importante verificar se o nome que apareceu nas buscas corresponde à foto utilizada. Compare os resultados com o perfil que você desconfia ser fake.
2° Busque por erros de coerência e coesão nas publicações
Geralmente, perfis fakes não são muito coerentes com a escrita. Por isso, pode haver erros linguísticos, como falta de coesão nas ideais. Desconfie de linguagens não usuais no dia a dia, abordagens formais em demasia ou muito informais.
3° Avalie a lista de amigos
Perfis falsos contém, geralmente, poucos amigos e são recentemente criados de forma aleatória. Segundo a teoria do escritor americano Jim Rohn, nós somos a média das cinco pessoas com quem passamos mais tempo. Logo, as pessoas têm amigos em comum com as atividades que elas exercem. Portanto, tente analisar a porcentagem dos amigos que curtem, postam ou compartilham conteúdos similares aos do perfil.
4° Confira os dados pessoais
Verifique se o perfil contém informações suficientes que possam levar à identificação além da rede social, como parentes, hobbies, outros grupos ou comunidades que às quais a pessoa pertence, ou até mesmo características pessoais. Isso o ajudará a pesquisar mais sobre o indivíduo e pedir referencias sobre aquele perfil. Porém, vale destacar que, para fins comerciais, pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), não se pode manipular dados pessoais sem a ciência do titular dos dados.
5° Compare os perfis de “celebridades famosas”
Suspeite de contas de pessoas famosas que realizam pedidos ou não têm envolvimento naquele assunto. Perfis fakes costumam usar nomes ou identidades de pessoas “famosas” ou reconhecidas em um determinado ambiente. É recomendável investigar se, em outras redes, a “celebridade” compartilha da mesma ideologia postada no perfil analisado.
6° Fique atento(a) à data de início do perfil na rede social
Uma pessoa que se passa por outra para saber uma informação sua geralmente cria um perfil naquele momento com certa quantidade de informações para te abordar. Observe a data em que a pessoa do perfil entrou na rede social e quando fez a primeira postagem no canal.
7° Confira o padrão das fotos
Muitos perfis gerados por robôs não contêm fotos particulares. As poucas publicações mostram uma espécie de vida perfeita. Suspeite sempre de perfis com somente fotos de estúdio, bem-produzidas, ou de uma pessoa “perfeita”. Embora seja natural colocarmos nas redes sociais o “eu ideal”, exageros de uma vida perfeita fogem da projeção inconsciente e podem indicar uma tentativa de persuadir os visitantes desse perfil. Caso se depare com perfis assim, volte à dica número 1.
8° Procure a pessoa em outras redes sociais
Confira se a mesma pessoa contém uma conta em outra rede social e se as informações coincidem. Compare as fotos, dizeres, linguajar e postagens no Instagram, YouTube, Facebook, Twitter ou outras redes. Saiba, entretanto, as redes possuem diferentes públicos. Ou seja, se no Facebook a pessoa apresentar uma foto mais socializada, no LinkedIn por exemplo, será natural uma foto mais profissional. Esse, inclusive, é um ótimo indício de que realmente a pessoa existe. Tente contato, em outra rede, e pergunte se o perfil suspeito é realmente da pessoa.
9° Desconfie de perfil sem foto
Perfil sem foto pode ser um forte indício de uma página fake, pois muitos robôs são contratados em lote e não têm informações necessárias para gerar possíveis dados autênticos. Uma coisa é um perfil novo, que acaba de ser criado, outra é um perfil com várias postagens ou vários comentários aleatórios sem uma identificação.
10° Confira o padrão das postagens
Contas sem postagens, com publicações parecidas ou em excesso podem ser um forte indicador de perfil fake. Muitos bots fazem postagens em diversas redes sociais quase simultaneamente. Uma dica para saber se é um robô ou uma pessoa real é o intervalo ou padrão de tempo referente as postagens. A repetição dos mesmos textos, imagens, frases e horários são os principais fatores para identificar um perfil falso. Entretanto, para Michel Souza, tecnólogo em marketing com MBA internacional em marketing e habilidades humanas pela competency do Brasil, o padrão de postagens pode variar conforme a cultura, país e região, o que poderia acarretar um “falso positivo” na identificação de robôs. Nesse caso, até mesmo um profissional que automatizou suas postagens nas redes sociais poderia ser classificado como robô. Por isso, é importante que cada caso seja analisado dentro de um contexto, salienta Michel Souza.
11° Desconfie dos perfis muito completos
Se o perfil com quem estiver conversando for mais completo do que o que está acostumado a encontrar, desconfie também. Os perfis de pessoas “comuns” são, em grande parte, desatualizados e incompletos. Caso o perfil esteja muito completo, verifique se as informações batem com órgãos legítimos e públicos.
12° Avalie o nome dos amigos
Donos de perfis fakes costumam adicionar uns aos outros para dar a impressão de uma vida social movimentada. O professor Ângelo Souza, tecnólogo em redes de computadores e mestrando em administração de TI na Florida Christian University nos Estados Unidos explica que, em geral, robôs adicionam outros robôs, e muitos contratam esses bots com perfis sociais de outros países e com nomes estrangeiros. O professor ainda salienta que é possível inserir nos sistemas de robôs uma lista pré-definida de nomes de pessoas, comuns em cada países, e definir que o programa gerador faça uma combinação entre nome e sobrenome para, assim, gerar uma lista extensa. Logo, é comum o perfil falso ter um contato chamado Ana Maria e outro contato chamado Maria Ana.
13° Verifique o excesso de fotos sensuais
A sexualidade é um ponto que atrai tanto homens quanto mulheres, uma das necessidades humanas básicas conforme a Pirâmide de Maslow, e é um forte ponto para propagação da ideologia e filosofia através da identificação sexual. Perfis que contêm fotos extremamente sensuais – desde que não sejam de profissionais liberais do sexo, podem indicar uma conta suspeita para te influenciar desde um pensamento político, até mesmo golpes em que o perfil te pede alguma ação (golpes de estelionato).
14º Avalie a frequência do perfil na internet
Existem perfis falsos que são programados para atingir sempre os mesmos alvos. Podem ser sites de notícias, sites políticos, grupos de WhatsApp, de Telegram, entre outras redes. Um indício é verificar se o mesmo perfil que se mostra tão ativo em uma rede social, também aparece em outras redes sociais – e como aparecem. Se o comentário for o mesmo, com diferença de segundos, ou se a publicação só aparece sempre na mesma rede, temos um forte indício que o perfil pode ser falso.
15° Compare os números de curtidas com o número de seguidores
Não apenas curtidas, mas toda forma engajamento (comentários, compartilhamentos, reportagens, número de visualizações dos reels/vídeos) deve ser proporcional ao número de seguidores. É extremamente suspeito um perfil com 25 mil seguidores possuir menos de 100 curtidas em cada postagem e/ou nenhum comentário. Não que isso necessariamente possa indicar que o perfil seja fake, mas é um forte indício de que seguidores podem ter sido comprados, violando, assim, as regras de uso das redes sociais. Dica prática: utilize a ferramenta “Pega Bot”, disponível gratuitamente aqui. O dispositivo analisa o perfil do Twitter e dá uma pontuação para a probabilidade de ser um robô.
16º Avalie as interações do perfil com seus amigos e seguidores
Se você está desconfiando de um determinado perfil, entre na página de seus amigos e seguidores e veja se estas pessoas retribuem o follow, se esses usuários têm algum tipo de interação – uma curtida, um comentário ou um compartilhamento que o post suspeito tem. Caso não exista interação entre eles, pode ser um perfil suspeito.
17° Seja detalhista aos mínimos detalhes
Se uma pessoa que não é de seu convívio, círculo de amigos e família te enviou uma solicitação ou te abordou em algum chat, veja as fotos publicadas, fique atento aos pequenos detalhes, como por exemplo:
– Verifique se as fotos publicadas possuem rebarbas de cortes, aquelas pequenas linhas brancas nas laterais das fotos;
– Atente-se também para identificar se a publicação é um printscreen ou uma foto legitima. Por isso, sempre abra a foto em questão ao invés de avaliar só o formato de imagem do feed;
– Observe as datas em que as fotos foram publicadas, já que muitos criadores de perfis fakes realizam postagens de fotos no mesmo dia para possuir conteúdo no feed e, assim, passar mais confiança para a pessoa abordada;
Veja também de onde são os amigos do perfil que está te abordando:
– Investigue a localidade dos amigos do perfil em questão. Por exemplo: se a pessoa é da Bahia, verifique a quantidade de amigos que também são do Estado. Nesse caso, se a pessoa entrou na rede social em 2001 e é de Minas Gerais, não faz sentido ter conexões na rede somente com pessoas do Amazonas.
Em ano eleitoral, essas dicas são extremamente válidas para despertar o senso crítico na população, para que não acreditem facilmente nas pessoas que se escondem por trás de um perfil. A análise de perfis suspeitos, dos fakes, dos bots e da desinformação são assuntos muito complexos e profundos academicamente. Entretanto, se simplesmente praticarmos a ética, respaldada em fatos e evidências, conseguiremos traduzir essa complexidade e contribuir para a análise de perfis nas redes sociais. Vale lembrar que, se o perfil for comprovado que é falso ou não autorizado e remeter a uma pessoa que realmente exista, mas não foi autorizado por ela, essa ação também fere a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que prevê, em seu Art. 6, V, o princípio da qualidade dos dados sendo a garantia dos titulares, da exatidão, clareza, relevância e atualização dos dados, de acordo com a necessidade e para o cumprimento da finalidade de seu tratamento. Ou seja, as redes sociais devem contar com ferramentas para remoção e identificação de perfis falsos. As empresas que utilizam as redes sociais devem garantir que os perfis de pessoas utilizadas para fins profissionais sejam realmente dos respectivos colaboradores.
Créditos: Jovem Pan.