Em suas origens, a militância negra no Brasil esteve ligada a grupos de direita – foi o caso do partido político fundado pela Frente Negra Brasileira, em 1936, que estava alinhado com o integralismo. Num segundo momento, entre o fim da Segunda Guerra e o início da ditadura militar, o movimento, nas palavras do historiador Petrônio Domingues, no artigo Movimento Negro Brasileiro: Alguns Apontamentos Históricos, “ficou isolado politicamente, não podendo contar efetivamente com o apoio das forças políticas, seja da direita, seja da esquerda marxista”.
A partir de metade dos anos 1970, boa parte dos grupos de defesa das pautas voltadas à questão da etnia migrou para grupos de esquerda. “O embrião do Movimento Negro Unificado”, prossegue o pesquisador em seu artigo, citando um grupo influente no Brasil da época, “foi a organização marxista, de orientação trotskista, Convergência Socialista. Ela foi a escola de formação política e ideológica de várias lideranças importantes dessa nova fase do movimento negro”.
Ao aderir aos grupos de esquerda, o movimento teve que ignorar um fato: várias das principais lideranças socialistas e comunistas que surgiram desde o século 19 eram racistas e expressavam seu preconceito abertamente.
Confira agora seis citações que indicam o grau de desprezo que essas personalidades históricas alimentavam pelos negros – e também latinos e eslavos.
“Sem a escravidão, os Estados Unidos, o mais avançado dos países, teria se transformado num país patriarcal. Elimine a América do Norte do mapa do mundo e você vai ter anarquia – a completa decadência do comércio moderno e da civilização. Elimine a escravidão e você vai eliminar a América do mapa das nações.”
Karl Marx, 1847, em carta em que ele argumenta que a força escrava negra sustentou a plantações de algodão, fundamentais para a industrialização dos Estados Unidos.
“As classes e raças demasiado fracas para dominar as novas condições de vida precisam ceder [às mais fortes]”.
Karl Marx, 1853, em texto publicado na “New York Tribune”, deixando claro o que aconteceria com quem não se adaptasse ao socialismo.
“É um golpe de azar que a magnífica Califórnia tenha sido tomada [pelos americanos] dos preguiçosos mexicanos que não sabiam o que fazer com isso? ”
Karl Marx, satirizando os mexicanos pela perda do território da Califórnia na Guerra Mexicano-Americana (1846-1848). A fala foi ratificada no quinto congresso da Internacional Comunista, que afirmou ser “direito daqueles provenientes de países civilizados se estabelecerem em países cuja população permanece em um estágio mais baixo de desenvolvimento.”
“…está claro para mim que ele, pelo formato de seu crânio e por seu cabelo, descende de negros do Egito (…) O jeito chamativo do sujeito é parecido com o de um negro.”
Karl Marx, 1862, em carta a Friedrich Engels, se referindo ao político rival socialista Ferdinand Lassale.
“Entre nós os axiomas matemáticos parecem evidentes para toda criança de oito anos, e não precisam ser comprovados pela experiência, são apenas o resultado de herança acumulada. Mas seria difícil ensiná-los para um sul-africano ou um aborígene australiano.”
Friedrich Engels, 1877, argumentando que as capacidades intelectuais dos povos são diferentes.
“Em sua qualidade de negro, um nível mais próximo do reino animal que o resto de nós, ele é sem dúvida o candidato mais adequado desse distrito.”
Friedrich Engels, 1887, se referindo a Paul Lafargue, genro de Marx, que concorria a uma vaga no conselho de um distrito de Paris que abrigava um zoológico.
“O negro indolente e sonhador gasta seu dinheirinho em qualquer frivolidade ou diversão, ao passo que o europeu tem uma tradição de trabalho e de economia que o persegue até estas paragens da América e o leva a progredir.”
Ernesto Che Guevara, 1952, em seu livro de memórias de juventude, os Diários de Motocicleta. O comentário se referia a moradores pobres da Venezuela.
Bônus: Genocídio
“Os alemães e magiares austríacos serão libertados e se vingarão sangrentamente dos bárbaros eslavos. A próxima guerra mundial resultará no desaparecimento da face da terra não apenas das classes e dinastias reacionárias, mas também de povos reacionários inteiros. E isso também constitui um passo adiante.”
A fala genocida acima é de Engels, em artigo publicado em 1849 no jornal Neue Rheinische Zeitung, condenando as populações rurais do Império Austríaco por não terem participado com entusiasmo das Revoluções de 1848, que começaram na França e provocaram rebeliões em toda a Europa, inclusive na Alemanha e Áustria.
Gazeta do Povo