Robson Ferreira perambula com um cartaz em meio aos carros que aguardam o semáforo em um cruzamento de São Paulo. “Preciso de ajuda”, escreveu no cartaz que segura junto da palavra “PIX”, seguida de uma chave numérica.
O PIX se tornou a forma de pagamento mais popular do Brasil, superando desde o ano passado o volume de transações em cartões de crédito e débito.
“Recebo pelo PIX porque eu andava com a placa e aí as pessoas que me ajudavam, me disseram: ‘Coloca Pix, a gente nem anda mais com dinheiro’. Com o PIX geralmente recebo mais dinheiro”, diz Ferreira, um desempregado de 48 anos que pede esmola aos motoristas.
O método foi lançado em novembro de 2020 pelo Banco Central do Brasil (BCB).
Logo, a popularidade da iniciativa ganhou espaço, inclusive, na campanha às eleições de outubro: o presidente Jair Bolsonaro (PL) atribuiu a si próprio a autoria, mas o trabalho técnico começou durante o governo de Michel Temer (2016–2018).
O PIX também foi alvo de uma informação falsa, que indicava que se for eleito, o candidato favorito nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acabaria com o sistema para, assim, beneficiar os bancos, que não cobram tarifas pelo uso do PIX entre pessoas físicas.
– Pequenas quantias –
As “chaves” PIX totalizaram 478 milhões até julho — a maioria de pessoas físicas — entre 184 milhões de brasileiros bancarizados, segundo os últimos dados do BCB.
O número de transações chegou a 4,2 bilhões no primeiro trimestre do ano, 22,9% do total, contra 3,7 e 3,5 bilhões dos pagamentos com crédito (19,27%) e débito (19,8%), respectivamente.
O BCB também destaca os benefícios para os comerciantes: “As taxas cobradas para o recebimento de outros meios eletrônicos (…) são muito elevadas. Além disso, existe um espaço de tempo muito longo para que os recebidos sejam efetivamente creditados após a realização de uma venda”, de até 28 dias para os cartões de crédito.
Além dessa vantagem, José Jefferson, vendedor ambulante de água de coco em uma praia do Rio de Janeiro, destaca outro aspecto: “Dinheiro pode ter perda, roubo. É muito mais fácil no PIX porque é tudo com segurança”.
O fato de ser instantâneo situou o PIX como o segundo meio de pagamento no comércio eletrônico, segundo a consultoria Gmattos.
No entanto, o PIX é usado por enquanto para quantias relativamente pequenas.
Isso se reflete no volume das transações: 2 trilhões de reais no primeiro trimestre, quase cinco vezes menos que a soma das transferências eletrônicas.
Segundo Leandro Vilain, diretor-executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), “o PIX canibalizou muitas das transações que estavam sendo feitas em dinheiro em espécie”.
Analistas indicam que sua abrangência se deve também às contas gratuitas, ao programa de ajudas governamentais pago a 20,2 milhões de beneficiários diretamente em suas contas e uma base de mais de um celular por pessoa.
– Sequestros e fraudes –
Mas o acesso à conta bancária pelo celular e as transações por PIX abriram a via para vários crimes.
Anna Novaes, uma arquiteta de 52 anos, foi sequestrada em maio passado em São Paulo durante oito horas e forçada sob o cano de uma arma a pedir empréstimos a dois bancos, transferidos via PIX às contas dos sequestradores.
Somando compras virtuais, o prejuízo chegou a 40.000 reais, contou à AFP Novaes, que conseguiu um ressarcimento excepcional de seus bancos.
Em julho, houve 154.972 fraudes por PIX, mais que o dobro de janeiro, embora isto só represente 0,0075% das transações, segundo o BCB.
Superado o trauma do sequestro, Novaes contratou um seguro e não se resignou: “Continuo usando o PIX da mesma forma que antes. Não quero ficar sem essa facilidade”.