A Secretaria de Saúde de Santo André, na região do ABC paulista, afastou e abriu um procedimento de investigação sobre o atendimento de um médico plantonista de unidades de saúde do município a um paciente com varíola dos macacos. O profissional foi acusado pelo paciente de ter sido homofóbico no atendimento, que ocorreu na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Central de Santo André.
O homem que passou pela UPA relatou como foi seu atendimento pelo médico que acusa em um perfil no Twitter no dia 28 de julho sobre os fatos que ocorreram dia 25. Ele disse acreditar que estava com covid, até começarem a aparecer as bolhas características da varíola dos macacos.
“Fui à UPA Santa Luzita porque fiquei preocupado, a médica pediu para eu fazer teste de sifilis. Logo que cheguei a enfermeira me perguntou o porquê de eu fazer o teste. Disse que a médica tinha orientado e logo mostrei a bolhinha, ela se afastou e pediu que eu ficasse em um lugar isolado sem tocar em nada”, contou o paciente em seu primeiro atendimento.
Após o resultado negativo para sífilis, a médica examinou, fez fotos das bolhas e o encaminhou para a UPA Central, onde foi atendido pelo médico que o teria tratado de forma preconceituosa.
“Fui atendido por um médico que me tratou com um desdém total, como se eu fosse um leproso e negligente. Eu disse que tinha ido ao centro de especialidade e ele me indagou sobre a minha sorologia. Disse que era negativo, e ele respondeu ‘Você tem certeza mesmo?, ‘Por que se você está lá era por alguma doença? Você tem doença?’”, disse o profisisonal ao paciente, que segue o relato do tratamento pelo qual passou.
“Eu questionei: ‘Doença?’. ‘É, doença?’. ‘Deixa pra lá, eu vou mandar as enfermeiras lidarem com isso daí’. ‘Sai da sala, por favor’”, contou o paciente sobre as falas do médico.
Ele relata que então foi encaminhado para uma sala isolada da UPA e logo foi atendimento por uma equipe de enfermagem, que fizeram o teste para confirmar se ele estava infectado com a varíola dos macacos.
“Desde a minha primeira ida a UPA todas as profissionais mulheres seguiram uma conduta impecável de auxílio e acolhimento, tratando o vírus como mais um a ser solucionado com vários recursos e informações que elas tinham sobre o monkeypox. Em nenhum momento me senti coagido ou tratado como um portador da ‘nova praga gay’. Somente o médico homem me tratou com total repulsa”, declarou o paciente, que confirmou que foi infectado com varíola.
Por nota, a Secretaria da Saúde de Santo André informou que lamenta o ocorrido e que, além da apuração, o plantonista permanecerá afastado e sem receber salário até a conclusão do procedimento.
O profissional é contratado da SPDM, uma organização social de saúde, que mantém contrato de Gestão das Unidades da Rede de Urgência e Emergência, Pronto Atendimento e UPAS.
“Há um mês, profissionais da rede de saúde pública e privada receberam capacitações sobre os protocolos, condutas e encaminhamentos a respeito da monkeypox oferecidas pela Secretaria Municipal de Saúde”, diz o comunicado do órgão.
O paciente finalizou a postagem sobre o ocorrido lamentando a declaração da OMS (Organização Mundial da Saúde) que informava que a maior parte dos infectados pela doença são bissexuais e homossexuais.
“O debate é que estamos retrocedendo de novo, parece que mais uma vez Deus vai castigar a comunidade. Esses profissionais que estão propagando atitudes como a desse médico reforçam que a declaração da OMS é homofóbica, que a geração passada lutou para que eu e outras pessoas LGBTQIA+ não passasse por isso hoje em termos de saúde pública”, concluiu a vítima.
CNN Brasil