Na data em que é celebrado o Dia Internacional das Altas Habilidades ou Superdotação, pais de crianças e adolescentes nessa condição levantam o debate sobre a falta de inclusão. Em Belo Horizonte, um grupo se conecta com outras 140 pessoas no Brasil para discutir e esclarecer informações sobre o tema.
A filha de Wesley Camilo Moraes foi diagnosticada aos 4 anos de idade com altas habilidades em linguagem e operações. Agora, com 7 anos, a pequena Sofia ainda enfrenta dificuldades para se adaptar ao seu grau escolar. “Eles não se sentem respeitados porque o conteúdo é muito aquém da capacidade deles. Isso gera desinteresse”, relatou.
Ainda segundo Moraes, falta mais preparo das instituições de ensino e políticas públicas voltadas ao grupo. “A escola não reconhece a condição deles. Existem mitos que eles devem ser como robôs em tudo, mas não é verdade. Às vezes tem a facilidade em uma matéria e dificuldade em outra”, disse.
Sofia sonha em ser cientista e para ajudar a filha, Moraes, que é pedagogo, desenvolveu uma técnica de mentoria acadêmica fora da escola. “ A partir de um assunto de interesse dela, ela assiste vídeos e não copia nada. No final, ela escreve, de forma resumida, sobre o que entendeu e faz um desenho. O primeiro foi sobre os neurônios”, explicou.
Diagnóstico
No início deste ano, a OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgou que 5% da população mundial tem altas habilidades. No Brasil, estima-se que 2,3 milhões crianças estejam incluídas nesse grupo.
Apesar de a superdotação ser utilizada como sinônimo para a condição dessas pessoas, a neuropsicóloga Luciana Gaudio, que trabalha com o assunto há mais de 15 anos, explica que não são a mesma coisa. Segundo ela, o diagnóstico é feito através da avaliação neuropsicológica e o desenvolvimento da criança no cotiado. “Os teste de QI (Quociente de Inteligência) que apontam 130 a 144 são classificados como altas habilidades. Já os que apresentam número superior a 145, são os superdotados, o que é muito raro. Até o momento, só atendi um paciente nessa condição”, explica.
Ainda segundo Luciana é comum que essas crianças sejam diagnosticadas de forma errada e encaminhadas para tratamentos de outros transtornos, como autismo ou TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). “As pessoas com altas habilidades aprendem antes que os colegas e podem apresentar problemas de comportamento, com tendência de se isolarem. O que gera a confusão”, relatou.
Ensino
Atualmente, o MEC (Ministério da Educação) tem três orientações para as escolas públicas seguirem em caso de alunos com altas habilidades ou superdotados: passar o estudante para uma série superior, inserir disciplinas isoladas ou manter ele na série, mas com atividades específicas.
Apesar dos procedimentos, Luciana também concorda que faltam políticas públicas pensadas para a aprendizagem desse público. “Eu oriento a focar no esforço, não na inteligência. A tendência é que eles parem de se esforçar quando a tarefa for concluída. É preciso também acompanhar não só o desempenho, mas também o emocional dessas crianças”, afirmou.
Para os pais que desejam orientações sobre o assunto, a profissional indica procurar o NAAHS (Núcleo de Atividades de Altas Habilidades), gerenciado pelo Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, que fica na rua Carangola, no bairro Santo Antônio, na região centro-sul de BH.
Fonte: Notícias R7