Famosos que estiveram por anos ou décadas em produções da TV Globo, seja na dramaturgia, entretenimento ou jornalismo, já recorreram à Justiça para processar a emissora após serem demitidos. A relação inclui atrizes como Maitê Proença, jornalistas como Fernando Vanucci e ex-participantes de reality shows, como Marcos Harter, que esteve no “BBB”.
As ações movidas por nomes como Maitê e Carolina Ferraz, que tratam de direitos trabalhistas, foram criticadas por outro ex-funcionário da casa, o jornalista Carlos Tramontina, em uma entrevista recente ao podcast Flow.
“Acho o seguinte cara: você ficou 20 anos fazendo o negócio e serviu, agora não presta? Mas que hipocrisia é essa?! Eu vi outro dia as duas atrizes, a Maitê e a Carolina, agora processam a Globo por direitos trabalhistas, mas quando eram pessoas jurídicas pagavam menos imposto e agora querem recuperar os direitos trabalhistas”, disse Tramontina ao comentar os processos das atrizes.
Em geral, a Globo, como se vê abaixo, opta por não comentar os processos em aberto envolvendo ela. Algumas das ações já tiveram desfecho, como o processo movido pelo ex-BBB Marcos Harter. Ele pedia indenização por danos morais e materiais por ter sido desclassificado sob a acusação de agressão, mas perdeu e foi obrigado a indenizar a empresa.
Carolina Ferraz
Atual apresentadora do “Domingo Espetacular”, da Record TV, Carolina Ferraz trabalhou na Globo por 25 anos e atuou em novelas, como Por Amor (1997) e Avenida Brasil (2012). Ela foi demitida em 2017 e, no mesmo ano, decidiu processar a antiga empregadora. O motivo? Cobrar direitos trabalhistas não recebidos por ela ter sido contratada como pessoa jurídica (PJ).
Segundo o colunista de Splash Ricardo Fletrin, ela move uma ação estimada em cerca de R$ 5 milhões,na qual exige vínculo empregatício e todos os direitos trabalhistas previstos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O processo corre até hoje na Justiça do Trabalho.
Na época, a emissora confirmou o processo da atriz. A coluna de Splash consultou a casa a respeito da ação, mas foi informada que a emissora não comentaria casos “sub judice”.
Recentemente, ela disse que não voltaria a atuar em novelas. “Não vou deixar de atuar, só não quero mais fazer novelas… Acho que posso fazer um filme, uma minissérie, uma websérie, mas novela não, não quero nunca mais na vida ter que fazer uma novela”, declarou.
Maitê Proença
Assim como Carolina, Maitê Proença também entrou com processo na Justiça contra a Globo. A atriz, que participou de novelas como “Felicidade” (1996) e o remake de “Gabriela” (2012), foi dispensada em 2016 após mais de 30 anos de serviços prestados à emissora como PJ. No ano seguinte, ela abriu um processo reivindicando direitos trabalhistas pelo tempo em que ficou contratada.
O processo corre sob segredo de Justiça, mas, segundo o site Notícias da TV, Maitê pede uma indenização no valor de R$ 500 mil e convocou Carolina Ferraz para testemunhar a seu favor. Procurada pelo site, a Globo disse que não se pronuncia sobre processos judiciais em andamento.
Izabella Camargo
Após ficar afastada durante meses para tratar a síndrome de burnout, a jornalista Izabella Camargo foi demitida da Globo em 2018 e reintegrada por determinação judicial em julho do ano seguinte. No dia da reintegração, porém, a emissora não a recebeu. Segundo o colunista de Splash Ricardo Feltrin, naocasião, a emissora não permitiu sua entrada na sede de São Paulo, mas ela acabou conseguindo isso depois com um oficial de Justiça.
Ainda segundo o colunista do Splash, em 2019, ano em que deixou a emissora definitivamente, a jornalista e a emissora firmaram um acordo, no qual a jornalista deveria receber cerca de R$ 1 milhão. Em compensação, Izabella Camargo não poderia mais dizer que a doença que sofre, síndrome de Burnout, foi causada pela emissora.
Procurada pela coluna de Splash, a Globo disse que não comenta questões trabalhistas. O advogado da jornalista, Kiyomori Mori, disse que não faria comentários porque a ação corria em segredo de Justiça.
Sonia Braga
Antes de se tornar estrela de filmes nacionais e internacionais, Sonia Braga atuou em novelas da TV Globo como “Dancin Days”. A trama de Gilberto Braga foi exibida originalmente em 1978 e ganhou reprise no Canal Viva em 2014. Foi nesse momento que Sônia processou a antiga empregadora para cobrar o pagamento dos direitos autorais conexos pela reexibição da obra, em direitos de imagem.
A reexibição da trama em 2014 rendeu recordes de audiência e liderança na TV por assinatura, segundo o blog Outro Canal, da Folha de S.Paulo. Na época, o Viva disse que licencia conteúdo da Globo e de outras produtoras nacionais e internacionais e que esses fornecedores é que são responsáveis pelo pagamento dos direitos a seus contratados.
A Globo saiu vitoriosa em 2018. O juiz Ricardo Cyfer, da 10ª Vara Cível do Rio, alegou que o prazo para o pagamento ainda estava valendo, e que a atriz havia se precipitado, e não cabia recurso.
Paulo Coronato
Paulo Coronato, que fez sucesso na novela “Mulheres Apaixonadas” (2003), também passou por um caso semelhante recentemente. Ele pediu à Justiça para ter acesso a documentos da TV Globo relativos às reprises das obras em que trabalhou. Ele alegava que tomou conhecimento, por meio de diversos sites, que a Globo vem reprisando seus trabalhos sem efetuar o pagamento aos artistas ou efetuando de forma incorreta, inclusive com vendas internacionais não repassadas.
Em contestação, a Globo defendeu que a eventual cobrança de verbas estaria sujeita ao prazo de 5 anos e compartilhou os dados sobre as reprises, exibições e comercializações anteriores ao processo. O ator também pediu documentos assinados pela Globo com terceiros, mas a juíza Beatriz Cabezas afirmou que não se pode exigir que a TV apresente documentos assinados com outros. Dessa forma, a magistrada deu como encerrado o processo.
Fernando Vanucci
O narrador esportivo Fernando Vanucci, que morreu em 2020, saiu da emissora em 1999 após “ser colocado na geladeira” por um erro: ser filmado engolindo um lanche ao vivo no Esporte Espetacular. Em entrevista ao UOL, ele disse que ficou incomodado após a emissora impor uma multa por descumprimento de regras no trabalho. Ele, então, entrou com um processo na Justiça e não voltou mais à Globo.
Na Justiça, Vanucci venceu um processo trabalhista contra a Globo e recebeu uma indenização pela falta de vínculo empregatício ao longo dos 26 anos. O jornalista afirma ter recebido em torno de R$ 2 milhões. A Globo, à época, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que não comenta processos sub judice, mas alegou que o valor efetivamente pago foi menor do que o alegado por Vanucci.
Paralelamente corria um processo cível, que o apresentador perdeu anos antes de receber a indenização milionária. Na época, ele estava na Rede TV! e passou por momentos delicados porque teve as contas bloqueadas.
Ex-BBB Marcos Harter
Marcos Harter esteve na Globo por poucas semanas, apenas enquanto esteve confinado no “BBB 17″. Ele foi acusado de agredir a sister Emily, que venceu a temporada, e foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro ao sair do reality, mas acabou absolvido.
Por isso, ele decidiu processar a Globo ao afirmar ter sofrido danos morais e materiais por participar do reality. A defesa de Marcos brigou por uma indenização de R$ 750 mil, mas ele, no entanto, perdeu a causa e teve de pagar R$ 75 mil à emissora em janeiro de 2021, segundo o site Notícias da TV.
O ex-BBB recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e foi derrotado em segunda instância. À Justiça, a Globo argumentou que ele foi expulso do reality show após análise interna das imagens e diante do fato de a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) do Rio ter aberto um inquérito criminal para apurar a conduta dele no programa.