Com a primeira morte por varíola dos macacos (monkeypox) no Rio de Janeiro, especialistas apontaram ao DIA que a confirmação acende um sinal de alerta para a população fluminense. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) o óbito foi registrado em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
O paciente, um homem de 33 anos que não teve a identidade revelada, estava internado do Setor de Doenças Infecto Parasitárias no Hospital Ferreira Machado (HFM). Segundo a Secretaria Municipal de Saúde daquela cidade, ele apresentou sintomas logo após retornar de viagens que fez para Natal e São Paulo.
Ainda de acordo com a pasta, o paciente tinha comorbidades, doenças graves que levavam à diminuição da imunidade que, no caso da infecção por monkeypox, é potencialmente mais grave. Segundo a SES, a Secretaria de Saúde de Campos está monitorando as pessoas que tiveram contato com o paciente. Nenhum apresentou sinais e sintomas de infecção pelo vírus.
De acordo com o infectologista da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj) e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), José Pozza, o número de mortes por varíola dos macacos pode aumentar no estado, mas no cenário a situação ainda é controlada.
“Essa primeiro morte serve de alerta pois, apesar da doença ser de evolução benigna na maioria dos casos, em alguns pacientes ela pode se agravar e disseminar para órgãos internos, levando ao óbito”, explica ele. “A população não precisa se desesperar, mas deve ficar atenta, pois até o momento não temos medicamento nem vacina suficientes pra todos. Pode haver novas mortes, e provavelmente vão acontecer, já que alguns grupos podem ser mais vulneráveis e cursar com uma apresentação mais grave da doença”, diz o infectologista.
Para o coordenador da Câmara Técnica de Doenças Infecciosas do Conselho Regional de Medicina (Cremerj), Celso Ramos, a nova manifestação da varíola dos macacos surgiu com sintomas diferentes dos já vistos.
“Essa doença [a varíola dos macacos] tem características muito distintas das discrições clássicas da varíola. Ela tem características muito distintas das que a gente vai encontrar nos livros e nos artigos, quando a gente lê sobre a monkeypox que ocorre na África. Podem ser poucas lesões, as lesões podem parecer uma ‘espinhazinha’, um ‘cabelozinho’ inflamado, e esses gânglios aumentados, a pessoa pode não notar ou ser notado apenas pelo médico quando examina”, ressaltou ele.
Segundo Ramos, é necessário que a coleta do material para diagnóstico da varíola dos macacos seja aprimorada durante esse período crucial.
“É muito complicado fazer a o diagnóstico laboratorial, que é absolutamente necessário, sem ele eu tenho dificuldade de afirmar o diagnóstico, e isso depende de uma coleta correta do material. Esse exame não está sendo coberto pelos planos de saúde e embora haja uma organização, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, de coleta e envio de material, essa coleta nem sempre está sendo feita por pessoas que são treinadas para isso e os laboratórios que fazem esse exame são poucos não estão dando conta o que acontece e as medidas de controle não podem ser tomadas adequadamente”, disse.
A SES-RJ informou que, até esta segunda-feira (29), 611 casos confirmados de monkeypox e 61 prováveis foram registrados no estado. Outros 474 casos suspeitos seguem em investigação e 751 foram descartados.
Na última terça-feira (23) o Rio ganhou um novo centro de coleta de material para testagem de casos de varíola dos macacos (monkeypox), anexo à UPA Colubandê, em São Gonçalo, na Região Metropolitana. Com isso, o estado conta com dois postos de testagem, sendo o primeiro no Iaserj Maracanã, na Zona Norte.
Nesta semana, estava prevista a inauguração do terceiro centro de coleta, desta vez em parceria com a Prefeitura de Nova Iguaçu, mas o local não foi inaugurado. De acordo com a SES-RJ, ainda não há uma data marcada para o início do funcionamento. O posto de testagem será no Centro de Saúde Vasco Barcelos, como referência regional, atendendo aos municípios da Baixada Fluminense que não possuem o serviço.
Para a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Tânia Vergara, é necessário investir na imunização dos grupos mais atingidos pela varíola dos macacos para que a doença não se transforme em surto.
“O que precisamos é de vacinas. Estas deveriam ser para todos, mas não há como isso acontecer em nenhum lugar do mundo. Sendo assim, é necessário que as populações mais atingidas no momento tenham prioridade nesta vacinação. Quanto maior o número de casos, maior o risco. Sendo assim, a principal medida preventiva, que é a vacinação, deve ocorrer de forma rápida e, até o momento, não iniciamos nossa vacinação”, ressaltou.
“Precisamos entender que a doença se transmite principalmente de pessoa a pessoa por contato e que, por isso, se alguém aparece com qualquer dos sintomas relacionados à doença, como febre, aumento dos gânglios (chamado popularmente de íngua), dor de garganta, dor para evacuar ou aparecimento de lesões na pele, sejam elas nas regiões genitais, perianais, boca ou em qualquer do corpo, deve procurar atendimento médico. Outra medida importante é evitar grandes aglomerações e multiplicidade de parceiros sexuais. Higienizar frequentemente as mãos também é importante. O uso de máscaras também pode reduzir o risco de contaminação por secreções orais, embora não seja esta a principal forma de disseminação da doença”, finaliza a médica.