Dois navios de guerra da Marinha dos Estados Unidos entraram no Estreito de Taiwan neste domingo (28), no primeiro trânsito naval norte-americano na área desde que as tensões do país com a China aumentaram neste mês devido a uma visita à ilha pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi.
Os cruzadores de mísseis guiados USS Antietam e USS Chancellorsville estavam fazendo a viagem “através de águas onde as liberdades de navegação e sobrevoo em alto mar se aplicam de acordo com a lei internacional”, disse a 7ª Frota dos Estados Unidos no Japão em comunicado.
Ela disse que o trânsito estava “em andamento” e que não havia “interferência de forças militares estrangeiras até agora”. A informação é da CNN Brasil.
“Esses navios [estão em trânsito] por um corredor no estreito que está além do mar territorial de qualquer estado costeiro. O trânsito dos navios pelo Estreito de Taiwan demonstra o compromisso dos Estados Unidos com um Indo-Pacífico livre e aberto. Os militares norte-americanos voam, navegam e operam em qualquer lugar que a lei internacional permita”, afirmou o comunicado.
O Comando do Cenário Oriental dos militares da China disse que estava monitorando os dois navios, mantendo um alerta máximo e “pronto para frustrar qualquer provocação”.
O estreito é um trecho de água de 180 quilômetros que separa a ilha democrática de Taiwan, autogovernada, da China continental.
Pequim reivindica soberania sobre Taiwan apesar do Partido Comunista chinês nunca ter controlado a ilha – e considera o estreito parte de suas “águas internas”.
A Marinha dos Estados Unidos, no entanto, diz que a maior parte do estreito está em águas internacionais.
Os Estados Unidos citam uma lei internacional que define as águas territoriais como se estendendo por 22,2 quilômetros da costa de um país e envia regularmente seus navios de guerra pelo estreito no que chama de operações de liberdade de navegação, incluindo viagens recentes dos destroieres de mísseis guiados USS Benfold e USS Port Royal.
Esses movimentos atraíram respostas iradas de Pequim.
“As frequentes provocações e exibições demonstram plenamente que os Estados Unidos são os destruidores da paz e da estabilidade no Estreito de Taiwan e os criadores dos riscos de segurança no Estreito de Taiwan”, disse o coronel Shi Yi, porta-voz do Exército de Libertação Popular (ELP) após o trânsito do Benfold em 19 de julho.
Pequim intensificou as manobras militares no Estreito – e nos céus acima dele – após a visita de Pelosi à ilha no início deste mês.
Minutos após o desembarque de Pelosi em Taiwan em 2 de agosto, o ELP anunciou quatro dias de exercícios militares em seis zonas ao redor da ilha.
As manobras incluíram o lançamento de mísseis balísticos em águas ao redor de Taiwan, vários navios de guerra chineses navegando no Estreito e dezenas de aviões de guerra do PLA rompendo a linha mediana – o ponto intermediário entre a China continental e Taiwan que Pequim diz não reconhecer, mas que respeitou até então.
Desde que esses exercícios terminaram oficialmente, os aviões de guerra do PLA continuaram a cruzar a linha média diariamente, geralmente em números de dois dígitos, de acordo com estatísticas do Ministério da Defesa de Taiwan.
Em 8 de agosto, o último dos quatro dias de exercícios anunciados na noite em que Pelosi pousou em Taiwan, até 22 de agosto, entre cinco e 21 aeronaves do PLA cruzaram a linha média todos os dias.
Em julho, um mês antes da viagem de Pelosi, aviões de guerra chineses cruzaram a linha mediana apenas uma vez, com um número não especificado de jatos, segundo o Ministério da Defesa de Taiwan.
Além disso, relatórios de Taiwan apontam que entre cinco e 14 navios de guerra do PLA foram vistos nas águas ao redor da ilha.
Os exercícios do PLA continuam nesta semana, parte do que normalmente é uma temporada movimentada para os exercícios chineses.
O Comando do Cenário Oriental da China disse na sexta-feira (26) que realizou “patrulhas conjuntas de segurança de prontidão para o combate e exercícios de treinamento de combate envolvendo tropas de vários serviços e armas nas águas e no espaço aéreo” em torno de Taiwan.
Esse anúncio veio depois que a senadora norte-americana Marsha Blackburn, uma republicana do estado do Tennessee que faz parte do Comitê de Serviços Armados do Senado, tornou-se o último membro do Congresso a visitar Taiwan desafiando a pressão de Pequim, dizendo: “Não serei intimidada pela China comunista”.
Em tweets na manhã de sexta-feira, a senadora, que não representa o governo Biden, reiterou seu apoio a Taiwan.
“Eu nunca vou me curvar ao Partido Comunista Chinês”, disse ela. “Continuarei a apoiar os taiwaneses e o seu direito à liberdade e à democracia. Xi Jinping não me assusta”, acrescentou mais tarde, referindo-se ao líder da China.
Nicholas Burns, embaixador dos Estados Unidos na China, disse à CNN na semana passada que a resposta de Pequim à visita de Pelosi a Taiwan foi “uma reação exagerada”.
“Não acreditamos que deva haver uma crise nas relações EUA-China após a visita – a visita pacífica – da presidente da Câmara dos Deputados a Taiwan… foi uma crise fabricada pelo governo em Pequim”, afirmou.
Agora, “cabe ao governo aqui em Pequim convencer o resto do mundo de que agirá pacificamente no futuro”, disse o embaixador.
“Acho que há muita preocupação em todo o mundo de que a China se tornou um agente de instabilidade no Estreito de Taiwan e isso não é do interesse de ninguém”, ressaltou.
Outras autoridades americanas disseram que Washington não mudaria a maneira como os militares dos Estados Unidos operam na região.
“Continuaremos a voar, navegar e operar onde a lei internacional permitir, consistente com nosso compromisso de longa data com a liberdade de navegação, e isso inclui a realização de trânsitos aéreos e marítimos padrão pelo Estreito de Taiwan nas próximas semanas”, disse Kurt Campbell, coordenador do governo para o Indo-Pacífico, a repórteres na Casa Branca em 12 de agosto.
O embaixador chinês em Washington Qin Gang disse na semana passada que os trânsitos dos Estados Unidos apenas intensificam as tensões.
“Peço aos colegas americanos que sejam moderados, não façam nada para aumentar a tensão”, afirmou Qin a repórteres em Washington. “Se houver algum movimento que prejudique a integridade territorial e a soberania chinesas, a China responderá”.