Três dos principais partidos do país, PSDB, Podemos e União Brasil gastaram cerca de R$ 15 milhões com pré-campanhas à Presidência da República que ficaram pelo caminho. Ao menos parte do dinheiro usado para custear atos de pré-campanha, propagandas e até salários dos pré-candidatos saiu do fundo partidário, abastecido com recursos públicos. Os números constam nas prestações de contas enviadas pelas legendas à Justiça Eleitoral.
A mais cara das empreitadas frustradas foi paga pela PSDB. O partido organizou eleições internas, as chamadas prévias, para escolher o nome que representaria a legenda na corrida ao Palácio do Planalto. Estavam na disputa os ex-governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), além do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. Nesse processo foram consumidos R$ 12,2 milhões. O dinheiro foi usado para custear visitas dos pré-candidatos aos estados, debates internos e um evento com 700 filiados, além do sistema usado para garantir votação à distância. A informação é do Jornal O Globo.
Ao fim do processo que criou cizânias mal curadas até hoje, o vencedor das prévias, Doria, desistiu de disputar a Presidência da República. Ele recuou sob forte pressão de aliados, céticos com as suas chances de vitória. O tucano patinava no patamar dos 3% das intenções de voto nas pesquisas. Ao fim, o PSDB optou por apoiar a candidatura da senadora Simone Tebet, do MDB, ao Planalto.
Cada um dos três postulantes teve direito a R$ 4,2 milhões para pagar os custos de suas pré-campanhas nos estados. Dentre os gastos mais significativos, estão R$ 2,6 milhões desembolsados a empresas que desenvolveram uma ferramenta de votação online. A principal responsável pelo instrumento foi a Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que recebeu R$ 844 mil. A instituição foi o terceiro ente privado que mais recebeu dinheiro do PSDB em 2021, segundo o relatório entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Já o Podemos apostou no ex-ministro da Justiça Sergio Moro para disputar a Presidência. O partido bancou um endereço em São Paulo para abrigar a campanha, pagou salário fixo de R$ 22 mil por mês ao ex-juiz e manteve um marqueteiro à disposição dele. Só o evento de filiação de Moro custou em torno de R$ 200 mil. Já neste ano, o ex-juiz alegou desentendimentos internos e migrou para o União Brasil, pelo qual deverá concorrer ao Senado pelo Paraná. O prejuízo total da empreitada foi estimado em cerca de R$ 2 milhões.
O próprio União Brasil também deixou para trás uma pré-candidatura ao Executivo federal. O partido gastou cerca de R$ 1 milhão com dois eventos para lançar o nome do deputado Luciano Bivar (PE) ao Planalto — um em Brasília, com buffet à vontade, e outro em São Paulo, no Transamérica Expo Center, que contou com bateria de escola de samba. Só nas redes sociais, foram investidos cerca de R$ 88 mil com vídeos que mostravam a principal promessa de Bivar na pretensa campanha — a criação do imposto único. Bivar, porém, abandonou o projeto para se candidatar à reeleição na Câmara e, na semana passada, a legenda lançou a senadora Soraya Thronicke (MS) para a disputa presidencial.
Procurado, o PSDB informou em nota que as prévias trouxeram uma “série de efeitos positivos” à sigla, como “aproximação com os filiados e militância, ampla cobertura de mídia (que se fosse publicidade custaria dezenas de vezes o valor das prévias) e fortalecimento da democracia interna”.
Sem obstáculo legal
O Podemos declarou que a pré-candidatura de Moro já é “página virada” na sigla e que todos os gastos foram “devidamente comunicados” à Justiça Eleitoral.
O União Brasil, por sua vez, afirmou que os contratos firmados contemplam “todos os seus pré-candidatos e fazem parte da estratégia de torná-los mais conhecidos”. A sigla ainda disse que todos os serviços de publicidade, edição de vídeos e pesquisas contribuíram para “aumentar o nível de conhecimento sobre o União Brasil e seus pré-candidatos”.
Apesar dos custos elevados com pré-candidaturas que naufragaram, não há nenhum impedimento legal em um partido investir milhões em um projeto eleitoral que não prospera. Segundo a legislação eleitoral, a fiscalização sobre os gastos devem levar em conta se eles realmente foram feitos e relatados à Justiça.