Pré-candidato a deputado federal por São Paulo, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PTB) disse, nesta 2ª feira (25.jul), que, apesar de algumas divergências, apoiará a candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), porque — além do antipetismo — o atual mandatário defende o conservadorismo de costumes e a política economica liberal. “Eu não vejo alternativa outra que tenha esses dois fatores que para mim são relevantes”, afirmou em entrevista ,sua primeira após ter recuperado os direitos políticos na semana passada. À jornalista Roseann Kennedy, no Poder Expresso, do SBT News, o ex-presidente da Câmara também justificou sua saída do MDB, dizendo discordar de eventual apoio da sigla ao PT. “Quase que rasgar tudo aquilo que o MDB fez”, disse, referindo-se ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, do qual foi protagonista.
Afiado e assertivo, como de costume, perguntado a respeito do resultado das urnas para a Presidência da República, disse que o que vai decidir as eleições de outubro é “saber se o antipetismo é maior do que o antibolsonarismo, que também existe, ou se o antibolsonarismo vai ser maior o antipetismo”.
Indagado sobre o discurso de Bolsonaro na Convenção do PL neste domingo (24.jul), no Rio de Janeiro, na qual convocou eleitores para manifestações de 7 de Setembro, Eduardo Cunha defendeu o movimento, que classificou como um chamamento pacífico. “Eu acho que vai acabar sendo um grande comício, Bolsonaro tem poder de mobilização e ele está no direito dele. O histórico de violência ele não vem do Bolsonaro, o histórico de violência ele vem antes, do PT. A gente tem que contestar a violência de todo mundo.”
Eduardo Cunha também afirmou que a eleição deve ser realizada com respeito ao voto do eleitor que é soberano. Frisou que “aquele que vencer vai governar e aquele que perdeu, respeitar o resultado, essa é a lógica da democracia”.
O ex-deputado recuperou os direitos políticos na última semana. A decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região garante que o político dispute as próximas eleições, depois de ter tido o mandato cassado na Câmara dos Deputados, em 2016. Cunha é pré-candidato a deputado federal por São Paulo e está filiado ao PTB desde março.
MDB
O político justificou que deixou o MDB para se filiar ao PTB porque a legenda anterior se mostrou “um partido muito dividido” e que, após acordo com as suas alianças atuais, permanecer na sigla seria incoerente.
“Se eu quero militar na eleição defendendo a candidatura à reeleição do Bolsonaro, então não teria sentido eu ficar no MDB que é um partido que está extremamente dividido, com uma parte querendo apoiar o Lula. Não tem sentido eu ter um tipo de discussão com o MDB depois do processo de impeachment de Dilma e sonhar em apoiar o PT. Aqui é quase que rasgar tudo aquilo que o MDB fez, porque esses mesmos senadores que estão defendendo a aliança, votaram no impeachment condenando o PT”, justificou Cunha.
Ele adiantou também que, em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), será oposição ao eventual governo.
“Voto ideológico” de São Paulo
Sobre a escolha pelo maior colégio eleitoral do país em vez de seu berço eleitoral, Rio de Janeiro, Cunha explicou que a decisão levou em conta questões familiares, já que quatro dos seus cinco filhos moram em São Paulo. Ele reconheceu, porém, que como pretende disputar uma cadeira na Câmara Federal por meio do debate político, como “protagonista no processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma, não tem lugar mais apropriado para fazer esse debate que São Paulo”, onde aposta em voto ideológico.
Ainda sobre a maior cidade do país, Eduardo Cunha alfinetou o ex-juiz Sergio Moro. Disse que não é “fake” como o ex-ministro da Justiça, que chegou a tentar se candidatar por São Paulo, mas foi impedido pela Justiça Eleitoral paulista.
“Onde eu estou residindo em São Paulo o imóvel é de propriedade da minha família há 12 anos, então os vínculos que eu tenho são muito sólidos. Eu não sou fake que fiz um contrato de aluguel fraudado na véspera do prazo pra depois ser contestado pela justiça e não teve nem a coragem de recorrer porque ele sabia que ia perder, então, o meu caso é muito diferente”, enfatiza.
De volta às origens
Se eleito a uma vaga para retornar à Câmara dos Deputados no próximo pleito, o político analisou que em janeiro de 2023 a casa legislativa será composta por menos de 30% de deputados que estavam na Câmara quando ele deixou a legislatura, há cinco anos. “Não dá nem pra dizer pra você se eu terei desafetos ou se terei companheiro”, brincou, garantindo que vai apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL).
Mas não escondeu o desejo de voltar a ocupar a cadeira de presidente da Câmara. “Desejo todos os 513 deputados têm desejos de presidir a Câmara, quem disser que não tem está mentindo. Mas a gente tem que ir na construção política. Como dizia o Romário, ninguém sobe no ônibus e vai andar na janela. Se ocorrer, não será certamente agora”, concluiu.