Há décadas a Argentina vive uma crise econômica e apresenta um quadro macroeconômico alarmante. Desde 2001, quando houve o chamado corralito, a história mais recente do país é marcada por períodos de quedas e recuperações que influenciam na decisão dos argentinos de escolherem um novo governo.
Em dezembro de 2019, quando o esquerdista Alberto Fernández assumiu o poder, a situação na Argentina já estava ruim. Seu antecessor, o político de centro Maurício Macri (2015-2019) entregou o país ainda mais endividado, com uma inflação de 53,8%, o peso desvalorizado e uma taxa de pobreza de 40%. Parte dos problemas, no entanto, existia desde o governo anterior, comandado pela política de esquerda Cristina Kirchner (2007-2015), atual vice-presidente do país.
Em 2022, a inflação argentina atingiu o maior patamar em 30 anos depois de registrar uma alta de 64% no acumulado de 12 meses até junho. A projeção é que chegue aos 90% até o fim do ano, mesmo período em que o país completará 10 anos consecutivos com o índice de preços na casa dos 2 dígitos.
Durante a forte crise econômica, o governo de Alberto Fernández também enfrenta uma crise política, que teve como estopim a demissão do ex-ministro da Economia, Martín Guzmán. Aliado a Fernández e com uma visão moderada, ele perdeu o apoio de Cristina Kirchner e foi pressionado pelo grupo político da vice-presidente, o kirchnerismo, a sair do cargo.
Especialistas ouvidos pelo Poder360 avaliam que o atual governo argentino enfrenta dificuldades para demonstrar capacidade de resolução. Isso pode ocasionar, segundos eles, uma perda da centro-esquerda e da esquerda nas próximas eleições gerais do país em 2023. A hipótese, portanto, é de que os resultados reconduzam a direita de volta ao poder.
Aline Contti Castro, professora de Relações Internacionais da UFPB e pesquisadora da UnB, afirmou que um dos principais problemas da Argentina é, inclusive, essa alternância de modelos políticos no país. Castro também foi pesquisadora visitante na área de Relações Internacionais da Universidade Flasco-Argentina, em Buenos Aires.
“Eles vivem um momento super delicado porque existem conflitos e tensões no governo. Isso manda um sinal muito ruim tanto para os argentinos que votaram nesse governo, quanto para os estrangeiros e investidores que acompanham. […] Se houver uma piora dos indicadores econômicos e sociais, provavelmente a coalizão de centro-esquerda deve ser penalizada nas urnas e haverá, realmente, uma mudança de governo para um de centro-direita”, disse.
O economista e cientista político formado pela Universidade de Buenos Aires, Eduardo Crespo, apresentou uma análise semelhante. Segundo o professor adjunto da UFRJ, “o mais provável” é que um governo de direita ganhe as próximas eleições. “Nós só não sabemos se será da centro-direita ou algum grupo mais radical”, disse.
Nesse espectro político, os nomes mais cotados até o momento para serem candidatos à Presidência argentina são o atual prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, do partido Proposta Republicana, e o deputado Javier Milei, do partido A Liberdade Avança. Milei é apontado pelos especialistas entrevistados pelo Poder360 como um político da direita mais radical.
Para Crespo e Antônio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da UnB, Sergio Massa também aparece como um provável candidato para substituir Alberto Fernández em 2023.
Com informações do Poder 360.