O presidente da Argentina e líder da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Alberto Fernández, convidou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, para um debate sobre o futuro da “integração latino-americana”.
A Celac é um organismo internacional formado por 33 países. Como explica o jornalista e escritor Leonardo Coutinho, é uma espécie de Organização dos Estados Americanos (OEA) — mas sem os Estados Unidos. A entidade recebeu o apoio da China, que já participou de alguns encontros.
O convite de Fernández a Lula tem dois motivos: o primeiro, mera questão ideológica. Ambos os políticos estão vinculados ao populismo que impera na América Latina. O segundo, questão financeira. Isso porque o presidente Jair Bolsonaro (PL) formalizou, em janeiro de 2020, a suspensão do Brasil na Celac. O chefe do Executivo não vê com bons olhos a participação de ditaduras na organização, como Venezuela, Cuba e Nicarágua.
“Sem sede, orçamento ou pessoal, a Celac é, por enquanto, mais um centro de ativismo que um órgão multilateral, como seus entusiastas tentam fazer parecer”, escreveu Coutinho, no Twitter. “Para ditadores como Nicolás Maduro, Miguel Díaz-Canel e Daniel Ortega, o evento é um palanque para suas queixas e propagandas.”
Por que o assunto merece atenção
Em 2016, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ) revelou que a empreiteira Odebrecht foi responsável pelo “maior suborno da História”.
Depois de um acordo de cooperação com a Justiça, a Odebrecht e a Braskem admitiram ter pago, juntas, mais de US$ 1 bilhão em propina a funcionários, partidos políticos e representantes de 12 países, incluindo o Brasil. Em troca do suborno, as empresas ganhavam vantagens em contratos.
O esquema de pagamento de propina teve início em 2001, ainda durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. De lá para cá, a Odebrecht gastou aproximadamente US$ 790 milhões em propinas. Já a Braskem admitiu ter desembolsado € 250 milhões, entre 2006 e 2014.
O esquema
Para gerenciar os pagamentos de propina, a Odebrecht contava com uma complexa rede de empresas fantasmas e contas bancárias, espalhadas em diversas partes do mundo. Segundo as investigações, o esquema era tão organizado que a Odebrecht criou, em 2006, a Divisão de Operações Estruturadas — um departamento exclusivo para gerenciar o pagamento de propina. Essa unidade era usada para sistematicamente pagar funcionários de governo, políticos e partidos.
Com a intenção de ocultar os desvios, a Divisão de Operações Estruturadas usava um sistema de comunicações à parte, que permitia aos integrantes comunicarem-se uns com os outros por meio de e-mails e mensagens instantâneas. Eram necessários códigos e senhas específicos.
O esquema envolveu políticos, partidos, empresários e funcionários do governo de 12 países: Brasil, Angola, Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Peru e Venezuela.
Segundo o DOJ, a Odebrecht e a Braskem pagaram, juntas, quase US$ 600 milhões em propina aos corruptos brasileiros. De acordo com as investigações, os subornos foram pagos entre 2003 e 2016. A Odebrecht desembolsou aproximadamente US$ 350 milhões em propina, e, como resultado, garantiu ganhos em contratos de quase US$ 2 bilhões. A Braskem, por sua vez, autorizou o pagamento de US$ 250 milhões em subornos durante o mesmo período.
Créditos: Revista Oeste.