Com a inflação nas alturas, 4 em cada 10 cidadãos se encontram abaixo da linha da pobreza. Enquanto isso, o presidente e a vice-presidente disputam o poder.
A Argentina está mergulhada, mais uma vez, em uma crise econômica e política. Com a inflação nas alturas, 4 em cada 10 cidadãos se encontram abaixo da linha da pobreza. Enquanto isso, o presidente e a vice-presidente disputam o poder.
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Juan Lorenzo Silva conta que com 5 mil ou 6 mil pesos conseguia comprar frutas e verduras para o mês inteiro. Agora, diz ele, parece piada: com a mesma quantia leva o que dá para uma semana ou dez dias.
O vendedor Francisco Almada também lamenta: “Agora estamos vendendo menos porque as pessoas não têm dinheiro”, diz.
A alta dos preços é só a ponta de um iceberg enorme. O ex-ministro da Produção e Trabalho da Argentina, Dante Sica, explica que a crise é uma soma de desastres: a economia estagnada há dez anos, administração temerária e o consequente agravamento dos indicadores sociais, econômicos e financeiros.
“A Argentina ficou agora fora dos mercados de capitais, está enfrentando um déficit muito alto financiado pela emissão, que fez com que entrássemos novamente em um regime de alta inflação quase num nível de três dígitos muito parecido com o que nos passava na economia da América Latina na década de 1980”, explica Dante Sica.
Os preços dos alimentos foram os que mais subiram. O índice oficial da inflação mensal ficou em 5,3% em junho, e o acumulado dos últimos 12 meses passou dos 60%. Para tentar conter a inflação, o Banco Central argentino já aumentou a taxa básica de juros para 52% ao ano.
O agravamento da crise tem levado cada vez mais gente às ruas para protestar. Só esta semana teve agricultores fechando estradas contra as altas taxas de impostos, controles cambiais e a escassez de diesel em plena safra. Milhares de argentinos marcharam até a Casa Rosada, sede do governo. Nahuel Orellana diz que a população abaixo da linha da pobreza e a indigência vêm aumentando.
Os argentinos que podem fogem da inflação comprando dólar. E a crise aumentou a variedade de câmbios. Do começo do mês até agora, a cotação do dólar já subiu 22%. Um dólar no paralelo é vendido a mais do que o dobro da cotação oficial.
O presidente Alberto Fernández e a vice Cristina Kirchner não se entendem sobre a condução da política econômica do país, o que agrava o cenário. O aumento de gastos, defendido por Cristina, levou o ministro da Economia a renunciar e a substituta dele ainda não disse a que veio. As incertezas só pioram com a possibilidade de medidas como uma desvalorização ainda maior da moeda argentina para atrair capitais ou até dolarização da economia.
Especialistas afirmam que a crise do vizinho pode atingir alguns setores no Brasil.
“Se a economia deles patina, há uma perda também significativa no movimento de turistas no Brasil, que movimenta de forma significativa a economia do sul do país. O setor automotivo, o setor metal mecânico, o setor de máquinas, todas essas transações que existem entre o Brasil e Argentina nesses setores mais elaborados, elas são muito impactadas”, afirma o economista Vitor Schincariol, professor da Universidade Federal do ABC.
G1