Principal intérprete de samba-enredo do País, Luiz Antônio Feliciano, o Neguinho da Beija-Flor, comentou a polêmica envolvendo a fala do ex-piloto brasileiro Nelson Piquet ao se referir ao heptacampeão Lewis Hamilton. Em entrevista ao jornal O Globo, o cantor não viu racismo no termo usado pelo piloto.
“Na minha opinião, é uma forma carinhosa de tratar o piloto. Se ele dissesse “negrinho”, já seria outra coisa”, dissez Neguinho da Beija-Flor.
‘Neguinho’ é uma forma carinhosa, mas ‘negrinho’ é ofensivo. A Sandra de Sá ela usa muito esse termo, o ‘neguinho’, mas ela está se referindo a uma pessoa. ‘Negrinho’ é pejorativo, como quem diz ‘dinheirinho’ pra falar de pouco dinheiro, ou ‘tempinho’ pra falar de pouco tempo. Quem fala ‘negrinho’ faz pouco caso”, disse o compositor.
Ícone do carnaval carioca, Neguinho da Beija-Flor diz que a origem do apelido remete a sua infância em Nova Iguaçu. Uma vizinha lhe chamava de “neguinho” e bastou para que assim ficasse. Anos depois, na sua escola de coração, o apelido foi reinventado. E ele incorporou de maneira oficial e definitiva, tanto que assim consta em seus documentos e assim ele assina sempre que solicitado.
“Eu tinha 5 ou 6 anos, morava em Nova América, um bairro afastado de Nova Iguaçu. Uma senhora chamada Dona Aria me começou a me chamar de ‘neguinho da vala’, porque eu vivia pescando rã e mussum numa vala. Depois, em 1977, já virei o Neguinho da Beija-Flor por sugestão do Anísio (patrono da escola de Nilópolis)”, disse o cantor.
Apesar de vir à tona apenas no início desta semana, a fala de Nelson Piquet ocorreu no ano passado, quando o ex-piloto comentava um acidente envolvendo o heptacampeão com Max Verstappen, durante o Grande Prêmio de Silverstone, na Inglaterra. “O neguinho meteu o carro e deixou porque não tinha jeito de passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele é que só o outro [Verstappen] se f*deu”, afirmou Piquet ao canal Motorsports Talk, em novembro.
Com a repercussão do caso, Hamilton usou as redes sociais para rebater o brasileiro. “Vamos focar em mudar a mentalidade”, publicou em português, antes de completar em inglês. “É mais do que a linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não tem mais lugar em nosso esporte. Fui cercado dessas atitudes e alvo durante toda minha vida. Já houve muito tempo para aprender. O tempo para ação chegou”.
Nelson Piquet se pronunciou nesta quarta-feira (29). “O que eu disse foi mal pensado, e não defendo isso, mas vou esclarecer que o termo usado é aquele que tem sido amplamente e historicamente usado coloquialmente no português brasileiro como sinônimo de ‘cara’ ou ‘pessoa’ e foi nunca teve a intenção de ofender. Eu nunca usaria a palavra da qual fui acusado em algumas traduções. Condeno veementemente qualquer sugestão de que a palavra tenha sido usada por mim com o objetivo de menosprezar um piloto por causa de sua cor de pele”, escreveu.